Sobre a Oração
Vincent Cheung
A primeira parábola sobre oração que examinaremos se encontra em Lucas 11:5-10. Jesus a iniciou dizendo: “Suponham que um de vocês tenha um amigo e que recorra a ele à meia-noite e diga: ‘Amigo, empreste-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para lhe oferecer’” (v. 5,6). Naqueles dias era um grande embaraço e desonra não ter o que oferecer às visitas. Mesmo os pobres empenhavam-se em tratar as visitas tão bem quanto possível.
O homem desta parábola enfrenta um embaraço em potencial, pois não possui nada para servir à visita. Assim, ele vai à casa de um amigo e diz: “Amigo, empreste-me três pães, porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para lhe oferecer”. Mas o seu amigo, dentro de casa, responde, dizendo: “Não me incomode. A porta já está fechada, e eu e meus filhos já estamos deitados. Não posso me levantar e lhe dar o que me pede” (v. 7).
Naquele tempo, as pessoas comuns viviam em casas com um único cômodo. A família inteira dormia no mesmo cômodo, e o piso era de barro. Os moradores andavam tanto sobre o barro que ele se tornava um piso duro. Se esse homem se levantasse e andasse pela casa para encontrar pão para seu amigo, sujaria os pés e poderia até acordar o restante da família.
Além disso, a porta estava fechada. Durante o dia, era normal a porta permanecer aberta. Quando fechada, era indicação de que a família desejava privacidade, ou de que dormia. Esse é o caso na parábola: “Não me incomode. A porta já está fechada, e eu e meus filhos já estamos deitados. Não posso me levantar e lhe dar o que me pede”. Em outras palavras, esse homem pede para seu amigo fazer algo que seria uma grande incoveniência.
Jesus cocluiu a parábola dizendo: “Eu lhes digo: Embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar” (v. 8). Então aplicou a parábola à vida de oração, dizendo: “Por isso lhes digo. Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; e o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (v. 9,10).
Nossa próxima parábola é sobre a viúva e o juiz injusto:
Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Ele disse: “Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’. Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: ‘Embora em não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha mais me importunar’”. E o Senhor continuou: “Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: Ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18:1-8)
Algumas parábolas fazem comparações; outras, contrastes. Nessas duas parábolas não se afirma que Deus é semelhante ao amigo relutante ou ao juiz injusto, mas é descrito como alguém muito mais disposto e generoso que eles (Lc 11:9-13; 18:6-8).
O ponto é: se o amigo relutante atende ao pedido do amigo persistente mesmo quando é incoveniente, e se o juiz injusto ouve a petição da viúva mesmo quando isso contraria suas disposições e seus interesses, quando mais o Deus amoroso e generoso atenderá os pedidos persistentes de quem lhe escolheu para a salvação?
Lê-se em Lucas 11:9-13:
Por isso lhes digo: Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo aquele que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será aberta. Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!
Essa passagem se encontra imediatamente após a primeira parábola. Assim, Jesus não afirmou que Deus é como o amigo relutante – e se você o incomodar bastante, sem nenhuma vergonha no meio da noite, então, mesmo que não responda à sua oração por seu seu Pai celestial, ele, todavia, concederá seu pedido por causa da persistência, quanto mais o Deus amoroso e generoso lhe concederá o pedido se você orar com persistência.
Jesus também comentou sobre a segunda parábola: “Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: Ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18:6-8). Deus fará seus eleitos receberem justiça depressa. Deus não é como o juiz injusto no tratamento para conosco.
Com base nas explicações acima, podemos resumir vários pontos sobre a oração ensinados por essas parábolas.
Jesus afirmou em Lucas 11:8: “Eu lhes digo: Embora ele não se levante para dar-lhe o pão por ser seu amigo, por causa da importunação se levantará e lhe dará tudo o que precisar”. A palavra traduzida como “importunação” (“insistência”, NTLH) nesse versículo significa audácia. O homem não se constrangeu por atrapalhar a vida alheia e pedir o que necessitava. Ele se recusou a deixar que os costumes da época o impedissem de pedir o necessário. Jesus explicou que o amigo relutante lhe concederia o pedido não pela amizade, mas por causa da importunação persistente e audácia. Se até a pessoa relutante às vezes se deixa levar, quanto mais o Deus disposto a cumprir seus desejos em nossa vida responderá sem relutância às nossas orações? Assim, Hebreus 4:16 encoraja-nos a nos aproximar-mos de Deus com orações: “Aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade”.
Deus não possui as limitações humanas, como as do amigo relutante da primeira parábola. Ele não dirá: “Não me incomode. Eu não posso me levantar pois a porta já está fechada”, ou “meus filhos já estão deitados, por favor, volte amanhã”. Em vez disso, a Escritura diz:
“Ele não permitirá que você tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá; ele está sempre alerta! O SENHOR é o seu protetor; como a sombra que o protege, ele está à sua direita. De dia o sol não o ferirá, nem a lua, de noite. O SENHOR o protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida. O SENHOR protegerá sua saída e sua chegada, desde agora e para sempre” (Sl 121:3-8).
Além do mais, Deus não tem disposições malígnas, como o juiz injusto da segunda parábola. Ele não reterá a justiça nem se refreará de lhe responder por qualquer malevolência ou injustiça. Como Jesus disse: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino” (Lc 12:32). E com respeito aos eleitos de Deus, ele declarou: “Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu lhes digo: Ele lhes fará justiça, e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18:7,8).
Jesus nos ensinou a sermos persistentes na oração. Na parábola do juiz injusto, ele disse: “Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: ‘Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha mais me importunar!’” (Lc 18:4,5). A viúva da parábola não foi dissuadida, embora enfrentasse um juiz injusto.
A corrupção era desenfreada no processo legal daquele tempo. O suborno era quase uma necessidade se alguém quisesse levar seu caso até o fim e o juiz decidisse a seu favor. Uma pessoa como a viúva não possuía dinheiro para subornar o juiz. Todavia, sua persistência compeliu o juiz a lhe conceder justiça.
Isso serve para ilustrar o versículo 1, que declara o contexto e o objetivo da parábola: “Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre, e nunca desanimar” (Lc 18:1). Devemos persistir em oração a despeito dos pensamentos duvidosos, de parentes críticos e das circunstâncias negativas. Jesus nos assegurou de que Deus responderá aos clamores dos seus eleitos.
Deus não é como o amigo relutante da primeira parábola, nem como o juiz injusto da segunda parábola. Antes, ele é generoso para conosco e pronto para nos fazer justiça. “Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18:8).
Extraído do livro: As Parábolas de Jesus, de Vincent Cheung
Copyright: Editora Monergismo